Boneca morena, feita de trapos, cozida à mão,
já com vários remendos no seu coração.
O mundo brincou contigo
passando-te de mão-em-mão,
eras pequena e frágil
mas nunca disseste não.
Gostavas dos sorrisos dos meninos
do seu olhar quando olhavam para ti
mas depois da brincadeira, deitavam-te no chão
e esqueciam-te
e ali ficavas, abandonada, à espera
no soalho do salão.
O teu coração era forte
aguentava o pior embate
pois ver aqueles sorrisos
era o contraste
da desilusão.
Mas nem isso chegou,
quando te trocaram por outro boneco.
Um dia pensaste ser tudo no mundo deles
e de um momento para o outro
foste trocada sem aviso
deixada sozinha
com o som do riso
perdido numa missão.
De nada te valeu as horas que passaste a divertir
dos momentos em que estavam sozinhos
que pareciam longos e infinitos.
De nada te valeu repartir
ou deixarem-te enrolar os canudinhos
com os dedos de patinhos
pequeninos,
parecendo doces e inocentes
mas que no fundo escondiam uma faca na mão
pronta para apunhalar o teu coração.
Ai boneca de trapos
com mil e um remendos
triste é o teu destino
e triste é sofreres tanto
por quem te troca assim
sem compaixão.
1 comentário:
Ela viu bonecas de pano na feira
Queria uma pra brincar,fantasiar...
Decidiu fazer pra si a verdadeira
Juntou os panos, iniciou a costurar.
Era seu universo e sua natureza
Braços, pernas, tronco... Faltava
A cabeça... Era conteúdo preso...
Na forma dos desenhos subtileza...
Marcou indelével tinta, o coração,
Este cerne não poderia desbotar...
Nos retalhos, costurados à mão,
Só... A mulher pareceu desbravar...
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