18 de Abril de 2027
Querido João,
como sinto a tua falta. Os dias aqui parecem mais pequenos e não vejo a luz do sol desde à muito. Os meus pais sempre me disseram que o brilho do nosso país é único, mas só agora o consigo perceber.
Haverias de ver a imensidão do verde dos campos que aqui rodeia as casa com os telhados inclinados. Tudo tem um ar tão sereno e tranquilo que rapidamente se esquece a confusão que a vida é. Irias gostar de aqui estar, ou talvez te aborrecesses passado um tempo, pois sempre foste um rapaz com muita energia e admiro-te por isso.
Ontem veio-me à memória algo que disseste quando éramos ambos jovens e a vida permanecia um segredo desconhecido pronto a conquistar. É provável que não te lembres, a memória nunca foi o teu ponto forte, talvez eu te possa ajudar a recordar.
Era Inverno. O Inverno mais frio desde 1945, mas esse facto não parecia incomodar-te. Todos os dias usavas mais uma das tuas t-shirts características com o casaco preto por cima, e rias-te quando eu aparecia ao pé de ti a tremer da cabeça aos pés, encasacada com quatro camisolas e um casaco, e mesmo assim com frio. Mas por alguma razão, naquele dia, não te riste. Olhaste para mim com os teus olhos brilhantes, cor de avelã e permaneceste calado. Devo admitir que me assustei ao puxares-me pela mão com o teu dedo mindinho entrelaçado no meu, até ao banco em que tantas vezes nos sentámos a observar as formas das nuvens que iam passando empurradas pelo vento. Fizeste-me sentar ao teu lado e não proferiste uma única palavra durante minutos, tendo sido eu a perguntar-te o motivo de tanto mistério. Levantaste a cabeça lentamente e proferiste as palavras mais bonitas que alguma vez tivera ouvido.
A surpresa que de mim se apoderou foi de tal modo intensa que não consegui pronunciar uma resposta coerente e com os joelhos a tremer e a cabeça a rodar, fugi daquele lugar para me esconder, como uma criança envergonhada se esconde atrás das pernas dos pais.
Agora vejo o erro que cometi ao deixar-te para trás, sentado naquele banco verde de jardim, à espera que tudo o que construímos juntos se tornasse realidade.
É por essa razão que hoje te escrevo, para responder ás tuas lindas palavras que se marcaram no meu coração como ferros em brasa.
Sim, aceito.
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